Do alto dos meus 28 anos e
de toda a minha extensa experiência de vida, me pego pensando a respeito daquilo
que é ordinário.
Quando todas as pessoas
buscam destacar-se, vivenciar situações peculiares, desenvolver características
marcantes, personalidades singulares e definir-se como alguém extraordinário,
me dou conta de que o ordinário me cai bem...
Na verdade, tudo o que eu
mais queria era que um dia fosse exatamente igual ao outro, irmãos gêmeos, a
própria encarnação da mesmice. Dias tão semelhantes que eu não pudesse
distinguir um do outro.
Gostaria de reclamar da
rotina, de como faço tudo sempre igual, passo nos mesmos lugares e falo com as
mesmas pessoas, ou até como a mesma comida no mesmo lugar de sempre.
Queixar-me do quão
repetitivo são os assuntos e as idéias, de como em nada há desafio ou angústia
e me juntar ao coro daqueles cuja vida segue a mesma cadência
por anos a fio, com direção e velocidade constantes rumo a um objetivo traçado
e específico onde irá chegar inexoravelmente.
A esta altura, o leitor deve
achar que tal texto se trata da mais estapafúrdia das idéias e o quão leviano
seria este apelo ao Acaso. Contudo, insisto, que talvez me entendesse se
pudesse vivenciar tais coisas como eu. Cujos dias não só, em nada se parecem,
como nunca se conheceram nem apresentam qualquer semelhança entre si.
Pessoas e situações diversas
e peculiares, tudo junto e ao mesmo tempo.
Pensando estratégias e
abordagens variadas diante dos desafios que se apresentam a cada momento. Sem
falar na correria...
Os lugares, o trânsito, o
ônibus, o trabalho, os relacionamentos... Como fazer planos diante de tantas incógnitas?
Todo esse dinamismo cansa,
esgota, exaure... Haja criatividade para dar conta de tantas criações.
Penso haver conforto naquilo
que é o de sempre, que repete e que de tanto ser vivenciado se torna familiar,
próprio e pertencente, quase um ritual.
Falar banalidades, e daquilo
que é banal, remete a um espírito leve, trigueiro, sem exigências, quase
liberto.
Comporta-se como alguém
comum, indigno de nota, alguns diriam até reles sugere traço pueril, algo verdadeiro,
sem preocupações com a auto-imagem ou o juízo de outrem.
Poder esperar algo que já é
sabido e usual faz emergir um sentimento de familiaridade e costume, contar,
acreditar e saber, quase como a fé... Ao ponto de enfastiar-se do quanto já
esteve neste lugar ou situação.
Em Os Irmãos Karamazov, Dostoievski,
inicia seu relato desculpando-se com o leitor, pelo fato do protagonista
tratar-se de sujeito, medíocre, comum, ordinário. Ele então já percebera quanto
há pra se falar daquilo que não é digno de nota.
Paraíso seria sem esforço
nem vaidade, apenas por força do hábito, transformar em rotina, a verdadeira felicidade.